A História do Núcleo Terrantar

Uma jornada de mais de duas décadas de pesquisa no continente gelado

O início da jornada

Há mais de duas décadas iniciava o que viria ser o Núcleo Terrantar, com a aprovação do "Projeto Criossolos Austrais", elaborado com o objetivo de investigar as complexas organizações dos ecossistemas terrestres antárticos a partir dos solos das áreas livres de gelo. Sob a liderança do professor Carlos Schaefer, a primeira expedição ao continente gelado foi realizada durante a Operação Antártica Brasileira XXI. Inicialmente, os estudos se concentraram na região da Baía do Almirantado, Ilha Rei George, com o objetivo de monitorar o ambiente no entorno da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) através do mapeamento e classificação dos solos e da geomorfologia local. Nessa fase inicial, também foram produzidos estudos-chave para a compreensão do processo de ornitogênese (a influência das aves, como pinguins, na formação dos solos), que até hoje são referências na comunidade científica internacional, por auxiliarem a compreensão das interações entre o solo e as diversas colônias de pinguins da região.

Expansão e consolidação

Atualmente, o Núcleo Terrantar é coordenado pelo professor Márcio Rocha Francelino e abriga dois projetos dedicados ao estudo das regiões polares e subpolares: o Projeto Permaclima, coordenado pelo professor Carlos Ernesto Schaefer e financiado pelo CNPq, e o Projeto Terrantar, vinculado ao INCT-Criosfera e coordenado pelo próprio professor Francelino. Ao longo de mais de duas décadas de atuação, as áreas de estudo do Núcleo se expandiram consideravelmente. Inicialmente concentradas na Ilha Rei George, as pesquisas passaram a incluir outras ilhas do Arquipélago das Shetland do Sul, como as Ilhas Seymour, James Ross e Vega, além da Península Antártica. Posteriormente, foram também iniciadas investigações nas geleiras tropicais andinas e, mais recentemente, o Núcleo participou de expedições científicas ao Ártico e ao interior do continente antártico.

Equipe de pesquisadores na Antártica

Pesquisadores do Terrantar realizando hasteamento da bandeira do Brasil durante acampamento.

Novas fronteiras da pesquisa

A ampliação geográfica foi acompanhada pela incorporação de novas tecnologias e pela diversificação das linhas de pesquisa. Entre os recursos tecnológicos adotados destacam-se o uso de drones para imageamento e monitoramento de áreas livres de gelo, a tecnologia LiDAR para detalhamento da superfície do terreno e o radar de penetração do solo (GPR), empregado na avaliação da profundidade do permafrost (solo permanentemente congelado). Além disso, foram implementados diversos sítios de monitoramento contínuo de temperatura e umidade do solo. Hoje, essa estrutura representa a maior rede mundial de monitoramento da camada ativa e do permafrost, com mais de 30 sítios distribuídos pela Antártica, Cordilheira dos Andes e Ártico. Outro importante avanço foi a ampliação da equipe de colaboradores. O que antes era um grupo formado exclusivamente por pesquisadores da Zona da Mata Mineira transformou-se em uma extensa rede nacional e internacional, reunindo cientistas de diversas regiões do Brasil e do mundo. A consolidação de novas parcerias, tecnologias e áreas de estudo fortalece o papel do Núcleo Terrantar nas pesquisas sobre ambientes extremos e mudanças climáticas.

Legado e compromisso futuro

Hoje, ressaltamos o papel crucial da Antártica na regulação do clima global. Com um compromisso renovado com a excelência científica, temos também a missão de divulgar os processos que se desenrolam no continente e que repercutem diretamente sobre nós. Reconhecemos a importância científica e a capacidade contínua de inspirar, sensibilizar e propagar a pesquisa Antártica brasileira. Que venham os próximos anos de desafios e descobertas!